Acontecimentos. Papado

28 DE JANEIRO DE 1860

(Em casa do sr. Solichon, méd. srta. Solichon.)


Pergunta. – (Ao Espírito Ch.) Fostes embaixador em Roma e, naquele tempo, predissestes a queda do governo papal; que pensais hoje a esse respeito?

Resposta. – Creio que se aproxima o tempo em que a minha profecia vai se cumprir: mas isso não será sem tumultos. Tudo se complica; as paixões se esquentam e, de uma coisa que se poderia fazer sem comoção, tomam-na de tal modo que toda a cristandade será com ela abalada.

Perg. – Poderíeis nos dizer a vossa opinião sobre o poder temporal do Papa?

Resp. – Penso que o poder temporal do Papa não é necessário para a sua grandeza, nem para o seu poder moral, ao contrário, menos súditos terá, mais será venerado. Aquele que é o representante de Deus sobre a Terra está colocado bem alto para não ter necessidade do relevo do seu poder terrestre. A Terra a dirigir espiritualmente, eis a missão do pai dos cristãos.

Perg. – Pensais que o Papa e o sacro colégio, melhor esclarecidos, não façam o necessário para evitar o cisma e a guerra intestina, não fosse ela senão moral?

Resp. – Não o creio; todos esses homens são teimosos, ignorantes, habituados a todos os gozos profanos; têm necessidade do dinheiro para satisfazê-los, e têm medo de que a nova ordem de coisas não lhes deixe o bastante. Também eles levam tudo ao extremo, pouco se inquietando com o que acontecerá, sendo muito cegos para compreenderem a conseqüência de sua maneira de agir.

Perg. – Nesse conflito não há a temer que a infeliz Itália sucumba, e não seja reconduzida sob o cetro da Áustria?

Resp. – Não, é impossível; a Itália sairá vitoriosa da luta, e a liberdade raiará sobre essa terra gloriosa. A Itália nos salvou da barbárie, foi nossa mestra em tudo o que a inteligência tem de mais nobre e de mais elevado. Ela não cairá nunca sob o jugo daqueles que a rebaixaram.