A adolescência, ou seja, o período de transição entre a infância e a idade adulta é, sem a menor dúvida, aquele em que mais difícil se torna o relacionamento entre pais e filhos.
É que, nessa fase da vida, todo adolescente se defronta com uma série de situações antagônicas, tanto externas como internas, que o confundem, o irritam e o magoam, fazendo com que se mantenha em permanente estado de beligerância com o mundo que o cerca e... consigo próprio.
No lar, principalmente, ora não lhe permitem certas
coisas porque - dizem - "ainda é uma criança"; ora, ao contrário,
exigem dele que seja ajuizado e responsável, eis que, afinal, já não é
mais criança".
Por outro lado, o adolescente deseja e se esforça para pensar, optar e agir por si mesmo. Sentindo-se, entretanto, bastante inseguro, vê-se forçado a apelar para a ajuda e o apoio de pessoas mais velhas, e se estas pessoas forem pouco hábeis no trato com ele podem tornar odiosa tal dependência.
O mesmo acontece no terreno das emoções. Malgrado suas atitudes arrogantes com os pais, de cujos cuidados, amiúde, chega a fazer zombaria, no fundo, no fundo, necessita e deseja que eles continuem a protegê-lo, pois sabe que não têm, ainda capacidade suficiente para auto-governar-se. Destarte, - embora se constranja quando os pais se mostrem muito solícitos e preocupados com o que possa estar-lhe acontecendo, mormente diante de terceiros, na verdade sua alma transborda de júbilo porque isso lhe dá certeza da afeição paterna.
A propósito,
cumpre frisar que a vigilância dos pais, moderada e discreta, é mais
necessária nesta fase da existência do filho que em qualquer outra, já
que uma liberdade ilimitada seria extremamente perigosa para jovens
inexperientes que ainda não aprenderam a fazer bom uso dela.
Aspecto curioso da
adolescência: tanto o rapazinho como a moçoila, cujos anseios de
auto-afirmação e independência os levam a desobedecer e a desafiar os
pais, mesmo que estes sejam razoavelmente "avançados" e não se
mostrem nada rígidos em questão de disciplina, paradoxalmente, procuram
imitar e seguir à risca gestos, linguagem, moda e até vícios da “jovem
guarda” em evidência e se, por este ou aquele motivo, não possam, por
exemplo, usar o mesmo penteado ou o mesmo tipo de roupas dos seus ídolos,
consideram-se as pessoas mais infelizes do mundo.
A par disso, o adolescente começa a se
preocupar, também, com tudo o que diga respeito aos componentes da família.
Orgulha-se se esta goza de bom conceito na sociedade, se o pai possui um
automóvel de alta classe, se a mãe prima pela elegância, se os irmãos se
portam educadamente, etc.. Custa-lhe suportar, porém, que o pai não saiba
comer corretamente à mesa, que a mãe tenha maneiras vulgares ou que os
irmãos andem sujos e despenteados.
Não é só. Nessa idade, percebendo que os pais nada têm de sábios nem de santos, como lhe parecera na infância, decepciona-se com a ignorância deles e, o que é pior, com suas imperfeições morais. Incapaz, então, de superar a humilhação e a revolta que isso lhe causa, passa a afronta-los com atitudes tirânicas e agressivas.
Egoísta e sensível, o adolescente se contraria à toa,
queixando-se freqüentemente de não ser compreendido por ninguém, chora
por ninharias, chegando, não raro, até à desconfiança de não ser filho
legítimo.
Coisa importante, que os pais
precisam se dar conta é que, tal qual ocorre na infância e na meninice,
também na adolescência o filho precisa sentir-se aceito e amado
pelo meio em que vive, principalmente pela família.
Se não lhe dispensarem atenção, se o
ignorarem como se não existisse, se lhe derem a entender que é menos
inteligente ou menos virtuoso que os irmãos, se o ferirem com injustiças,
se o tratarem com excessiva severidade, e, sobretudo, se zombarem dele por
causa das transformações que se operam em seu corpo ou em sua voz, e, em
especial, por causa de seus novos interesses, como vida social, namoro,
etc., de duas uma: ou se tornará uma criatura fechada, triste, desmazelada,
sem confiança em si mesma, desprovida de iniciativas, (características da
auto-rejeição), ou buscará, desesperadamente, alguma compensação fora
do lar. E esta, tanto poderá ser a amizade de colegas que lhe queiram bem
sem restrições, um romance com a primeira pessoa que dele se acerque, ou
ainda a iniciação em vícios (fumo, bebida, sexo, tóxicos, etc.), o que
poderá acarretar implicações multo desagradáveis para todos.
A política que melhor convém a
pais de adolescentes, se desejarem captar-lhes a estima, o respeito e a
obediência, consiste em procurar compreende-los, ajudando-os a vencer as
dificuldades inerentes a essa etapa de seu crescimento, em usar de infinita
paciência para com eles e em ser condescendentes com as coisas secundárias,
reservando as exigências apenas para aquilo que seja essencial à sua boa
formação intelectual, moral e espiritual.