Compêndio do Catecismo da Igreja Católica - www.pastoralis.com.br

CAPÍTULO PRIMEIRO - Creio em Deus Pai

Os Símbolos da fé

33. O que são os Símbolos da fé?

São fórmulas articuladas, chamadas também de "profissões de fé" ou "Credo", com que a igreja, desde suas origens, expressou de modo sintético e transmitiu a própria fé com uma linguagem normativa e comum a todos os fiéis. 185-188 192, 197

34. Quais são os mais antigos Símbolos da fé?

São os Símbolos batismais. Uma vez que o Batismo é dado "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19), as verdades de fé neles professadas são articuladas em referência às três Pessoas da Santíssima Trindade. 189-191

35. Quais são os mais importantes Símbolos da fé?

São o Símbolo dos Apóstolos, que é o antigo Símbolo batismal da Igreja de Roma, e o Símbolo niceno-constantinopolitano, fruto dos primeiros dois Concílios Ecumênicos de Nicéia (325) e de Constantinopla (381) e ainda hoje comum a todas as grandes Igrejas do Oriente e do Ocidente. 193-195

"CREIO EM DEUS PAI TODO-PODEROSO, CRIADOR DO CÉU E DA TERRA"

36. Por que a profissão de fé começa com "Creio em Deus"?

Porque a afirmação "Creio em Deus" é a mais importante, a fonte de todas as outras verdades sobre o homem e sobre o mundo, e de toda a vida de cada um que nele crê. 198-199

37. Por que professamos um só Deus?

Porque ele se revelou ao povo de Israel como o Único, quando disse: "Ouve, Israel! 0 Senhor nosso Deus é o único Senhor" (Dt 6,4), "eu é que sou Deus e outro não há" (Is 45,22). O próprio Jesus o confirmou: Deus é "um só" (Mc 12,29). Professar que Jesus e o Espírito Santo são também Deus e Senhor não introduz nenhuma divisão no Deus único. 200-202 228

38. Com que nome Deus se revela?

A Moisés Deus se revela como o Deus vivo, "o Deus de Abraão,o Deus de Isaac, o Deus de Jacó" (Ex 3,6). Ao mesmo Moisés, Deus revela o seu Nome misterioso: "Eu Sou Aquele que Sou (YHWH)". O nome inefável de Deus, já nos tempos do Antigo Testamento, foi substituído pela palavra Senhor. Assim, no Novo Testamento, Jesus, chamado de Senhor, mostra-se como verdadeiro Deus. 203-205 230-231

39. Somente Deus "é"?

Somente Deus é em si mesmo a plenitude do ser e de toda perfeição, ao passo que as criaturas receberam dele tudo o que são e têm. Ele é "aquele que é", sem origem e sem fim. Jesus revela que também ele leva o Nome divino: "Eu sou" (Jo 8,28). 212-213

40. Por que é importante a revelação do nome de Deus?

Ao revelar o seu Nome, Deus dá a conhecer as riquezas contidas no seu mistério inefável: somente ele é, desde sempre e para sempre, aquele que transcende o mundo e a história. É ele que fez o céu e a terra. É o Deus fiel, sempre próximo a seu povo para o salvar. É o santo por excelência, "rico em misericórdia" (Ef 2,4), sempre pronto a perdoar. É o Ser espiritual, transcendente, onipotente, eterno, pessoal, perfeito. É verdade e amor. 206-213 "Deus é o ser infinitamente perfeito que é a Santíssima Trindade" (São Turíbio de Mongrovejo).

41. Em que sentido Deus é a verdade?

Deus é a própria Verdade e como tal não se engana e não pode enganar. Ele "é luz e nele não há trevas" (Mo 1,5). O Filho eterno de Deus, Sabedoria encarnada, foi enviado ao mundo "para dar testemunho da verdade" (Jo 18,37). 214-217 231

42. De que modo Deus revela que ele é amor?

Deus se revela a Israel como aquele que tem um amor mais forte do que o de um pai ou de uma mãe pelos seus filhos, ou de um esposo por sua esposa. Ele, em si mesmo, "é amor" (Hb 4,8.16), que se doa completa e gratuitamente, "que amou tanto o mundo que deu o seu Filho único para que todo o que nele crer seja salvo por ele" (Jo 3,16-17). Enviando seu Filho e o Espírito Santo, Deus revela que ele próprio é eterna troca de amor. 218-221

43. O que comporta crer num só Deus?

Crer em Deus, o único, comporta: conhecer sua grandeza e majestade; viver em ação de graças; confiar nele sempre, mesmo nas adversidade; reconhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens, criados à imagem de Deus; usar corretamente as coisas criadas por ele. 222-227 229

44. Qual é o mistério central da fé e da vida cristã?

O mistério central da fé e da vida cristã é o mistério da Santíssima Trindade. Os cristãos são batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. 232-237

45. O mistério da Santíssima Trindade pode ser conhecido pela pura razão humana?

Deus deixou alguns vestígios do seu ser trinitário na criação e no Antigo Testamento, mas a intimidade do seu Ser como Trindade Santa constitui um mistério inacessível à pura razão humana e até mesmo à fé de Israel antes da Encarnação do Filho de Deus e da missão do Espírito Santo. Esse mistério foi revelado por Jesus Cristo e é a fonte de todos os outros mistérios. 237

46. O que Jesus Cristo nos revela do mistério do Pai?

Jesus Cristo nos revela que Deus é "Pai", não somente porque é Criador do universo e do homem, mas sobretudo porque gera

eternamente em seu seio o Filho, que é o seu Verbo, "resplendor da glória do Pai, expressão de seu ser" (Hb 1,3). 240-242

47. Quem é o Espírito Santo revelado a nós por Jesus Cristo?

É a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. É Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho. Ele "procede do Pai" (Jo 15,26), o qual, princípio sem princípio, é a origem de toda a vida trinitária. E procede também do Filho (Filioque), pelo dom eterno que o Pai faz ao Filho. Enviado pelo Pai e pelo Filho encarnado, o Espírito Santo conduz a Igreja ao conhecimento "da verdade plena" (Jo 16,13). 243-248

48. Como a Igreja exprime a sua fé trinitária?

A Igreja exprime a sua fé trinitária ao confessar um só Deus em três Pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo. As três Pessoas divinas são um só Deus porque cada uma delas é idêntica à plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas são realmente distintas entre si pelas relações que as põem em referência umas com as outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. 249-256 266

49. Como operam as três Pessoas divinas?

Inseparáveis na sua única substância, as Pessoas divinas são inseparáveis também em suas operações: a Trindade tem uma só e mesma operação. Mas no único agir divino cada Pessoa está presente segundo o modo que lhe é próprio na Trindade. 257-260 267

"Ó meu Deus, Trindade que adoro... pacifica a minha alma; faz dela o teu céu, a tua morada amada e o lugar do teu repouso. Que eu não te deixe jamais só, mas que eu esteja ali, toda inteira, completamente vigilante na minha fé, toda adoradora, toda entregue à tua ação criadora" (Bem-aventurada Elisabete da Trindade).

50. O que significa que Deus é todo-poderoso?

Deus se revelou como "Forte e Poderoso" (Sl 24,8), aquele ao qual "nada é impossível" (Lc 1,37). A sua onipotência é universal, misteriosa, e se manifesta ao criar o mundo do nada e o homem por amor, mas sobretudo na Encarnação e na Ressurreição do Seu Filho, no dom da adoração filial e no perdão dos pecados. Por isso a Igreja dirige a sua oração ao "Deus todo-poderoso e eterno" ("Omnipotens sempiterne Deus..."). 268-278

51. Por que é importante afirmar: "Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1)?

Porque a criação é o fundamento de todos os divinos desígnios salvíficos; manifesta o amor onipotente e sapiente de Deus; é o primeiro passo para a Aliança do único Deus com o seu povo; e o início da história da salvação que culmina em Cristo; é uma primeira resposta às interrogações fundamentais do homem acerca da própria origem e do próprio fim. 279-289 315

52. Quem criou o mundo?

O Pai, o Filho e o Espírito Santo são o princípio único e indivisível do mundo, ainda que a obra da criação do mundo seja particularmente atribuída a Deus Pai. 290-292 316

53. Para que o mundo foi criado?

O mundo foi criado para a glória de Deus, que quis manifestar e comunicar a sua bondade, verdade e beleza. O fim último da criação é que Deus, em Cristo, possa ser "tudo em todos" (1Cor 15,28), para a sua glória e para a nossa felicidade. 293-294 319

"A glória de Deus é o homem vivo e a vida do homem é a visão de Deus" (Santo Ireneu).

54. Como Deus criou o universo?

Deus criou o universo livremente com sabedoria e amor. O mundo não é o produto de uma necessidade, de um destino cego ou do acaso.

Deus criou "do nada" (ex nihilo: 2Mc 7,28) um mundo ordenado e bom, que ele transcende de modo infinito. Deus conserva no ser a sua criação e a sustenta, dando-lhe a capacidade de agir e levando-a à sua realização, por meio do seu Filho e do Espírito Santo. 295-301 317-320

55. Em que consiste a Providência divina?

Consiste nas disposições com que Deus conduz as suas criaturas para a perfeição última, para a qual ele as chamou. Deus é o autor soberano do seu desígnio. Mas para a sua realização se serve também da cooperação das suas criaturas. Ao mesmo tempo, dá às criaturas a dignidade de agirem elas mesmas, de serem causa umas das outras. 302-306 321

56. Como o homem colabora com a Providência divina?

Ao homem Deus concede e pede, respeitando a sua liberdade, a colaboração de suas ações, de suas orações, mas também de seus sofrimentos, suscitando nele "tanto o querer como o fazer, conforme o seu agrado" (Fl 2,13). 307-308 323

57. Se Deus é todo-poderoso e providente, por que existe o mal?

A essa interrogação, tão dolorosa quanto misteriosa, pode dar resposta somente o conjunto da fé cristã. Deus não é de modo algum, nem direta nem indiretamente, a causa do mal. Ele ilumina o mistério do mal em seu Filho, Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou para vencer aquele grande mal moral que é o pecado dos homens e que é a raiz dos outros males. 309-310 324, 400

58. Por que Deus permite o mal?

A fé nos dá a certeza de que Deus não permitiria o mal se do mesmo mal não tirasse o bem. Deus já realizou isso de modo admirável por ocasião da morte e ressurreição de Cristo: com efeito, do maior mal moral, a morte do seu Filho, ele auferiu os maiores bens, a glorificação de Cristo e a nossa redenção. 311-314 324

O céu e a terra

59. O que Deus criou?

A Sagrada Escritura diz: "Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1). A Igreja, na sua profissão de fé, proclama que Deus é o criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, de todos os seres espirituais e materiais, ou seja, dos anjos e do mundo visível e, de modo particular, do homem. 325-327

60. Quem são os anjos?

Os anjos são criaturas puramente espirituais, não-corpóreas, invisíveis e imortais, seres pessoais dotados de inteligência e de vontade.

Eles, contemplando Deus face a face incessantemente, glorificam-no, servem-no e são seus mensageiros no cumprimento da missão de salvação para todos os homens. 328-333 350-351

61. De que modo os anjos estão presentes na vida da Igreja?

A Igreja se une aos anjos para adorar a Deus, invoca a assistência deles e celebra liturgicamente a memória de alguns. 334-336 352

"Cada fiel tem ao próprio lado um anjo como protetor e pastor, para o conduzir à vida" (São Basílio Magno).

62. O que ensina a Sagrada Escritura acerca da criação do mundo visível?

Por meio da narração dos "seis dias" da criação, a Sagrada Escritura nos faz conhecer o valor da criação e a sua finalidade de louvor a Deus e de serviço ao homem. Todas as coisas devem a própria existência a Deus, do qual recebe a própria bondade e perfeição, as próprias leis e o próprio lugar no universo. 337-344

63. Qual é o lugar do homem na criação?

O homem é o cume da criação visível, porquanto é criado a imagem e semelhança de Deus. 343-344 353

64. Que tipo de ligação existe entre as coisas criadas?

Existe entre as criaturas uma interdependência e uma hierarquia queridas por Deus. Ao mesmo tempo, existe uma unidade e solidariedade entre as criaturas, pois todas têm o mesmo criador, são por ele amadas e estão ordenadas à sua glória. Respeitar as leis inscritas na criação e as relações que derivam da natureza das coisas é, portanto, princípio de sabedoria e fundamento da moral. 342 354

65. Que relação há entre a obra da criação e a da redenção?

A obra da criação culmina na obra ainda maior da redenção. Com efeito, esta dá início à nova criação, na qual tudo encontrará seu pleno sentido e seu cumprimento. 345-349

O homem

66. Em que sentido o homem é criado à "imagem de Deus"?

O homem é criado à imagem de Deus no sentido de que é capaz de conhecer e de amar, na liberdade, o próprio criador. É a única criatura nesta terra que Deus quis em si mesma e que chamou a partilhar, no conhecimento e no amor, a sua vida divina. Criado à imagem de Deus, ele tem a dignidade de pessoa: não é alguma coisa, mas alguém, capaz de se conhecer, de se doar livremente e de entrar em comunhão com Deus e com as outras pessoas. 355-357

67. Para qual fim Deus criou o homem?

Deus criou tudo para o homem, mas o homem foi criado para conhecer, servir e amar a Deus, para oferecer-lhe, neste mundo, toda a criação em ação de graças e ser elevado à vida com Deus no céu. Somente no mistério do Verbo encarnado encontra a verdadeira luz o mistério do homem predestinado a reproduzir a imagem do Filho de Deus feito homem, que é a perfeita "imagem do Deus invisível" (Cl 1,15). 358-359 381

68. Por que os homens formam uma unidade?

Todos os homens formam a unidade do gênero humano pela comum origem que têm em Deus. Além disso, Deus "de um só homem fez toda a espécie humana" (At 17,26). Todos, pois, têm um único Salvador e todos são chamados a partilhar da eterna felicidade de Deus. 360-361

69. Como a alma e o corpo formam no homem uma unidade?

A pessoa humana é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual. O espírito e a matéria, no homem, formam uma única natureza. Essa unidade é tão profunda que, graças ao princípio espiritual que é a alma, o corpo, que é material, torna-se um corpo humano e vivo, e participa da dignidade de imagem de Deus. 362-365 382

70. Quem dá a alma ao homem?

A alma espiritual não vem dos pais, mas é criada diretamente por Deus e é imortal. Ao separar-se do corpo por ocasião da morte, ela não perece; unir-se-á novamente ao corpo no momento da ressurreição final. 366-368 382

71. Que relação estabeleceu Deus entre o homem e a mulher?

O homem e a mulher foram criados por Deus numa igual dignidade como pessoas humanas e, ao mesmo tempo, numa recíproca complementaridade como homem e mulher. Deus os quis um para o outro, para uma comunhão de pessoas. Juntos, são também chamados a transmitir a vida humana, formando no matrimônio "uma só carne" (Gn 2,24), e a dominar a terra como "intendentes" de Deus. 369-373 383

72. Qual era a condição originária do homem segundo o desígnio de Deus?

Deus, ao criar o homem e a mulher, tinha lhes dado uma especial participação na própria vida divina, em santidade e justiça. No desígnio de Deus, o homem não deveria nem sofrer nem morrer. Além disso, reinava uma harmonia perfeita no homem em si mesmo, entre criatura e criador, entre homem e mulher, bem como entre o primeiro casal humano e toda a criação. 374-379 384

A queda

73. Como se compreende a realidade do pecado?

Na história do homem está presente o pecado. Essa realidade se esclarece plenamente apenas à luz da Revelação divina e, sobretudo à luz de Cristo Salvador de todos, que fez superabundar a graça onde abundou o pecado. 385-389

74. O que é a queda dos anjos?

Com esta expressão indica-se que Satanás e os outros demônios de que falam a Sagrada Escritura e a Tradição da Igreja, de anjos criados bons por Deus transformaram-se em maus, porque com livre e irrevogável escolha rejeitaram a Deus e o seu Reino, dando assim origem ao inferno. Eles tentam associar o homem à sua rebelião contra Deus; mas Deus afirma em Cristo a sua vitória segura sobre o Maligno. 391-395 414

75. Em que consiste o primeiro pecado do homem?

O homem, tentado pelo diabo, deixou que se apagasse em seu coração a confiança em relação a seu Criador e, desobedecendo-o, quis se tornar "como Deus" sem Deus, e não segundo Deus (Gn 3,5). Assim, Adão e Eva perderam imediatamente para si e para todos os seus descendentes a graça da santidade e da justiça originais. 396-403 415-417

76. O que é o pecado original?

O pecado original, no qual todos os homens nascem, é o estado de privação da santidade e da justiça originais. É um pecado por nós "contraído", não "cometido"; é uma condição de nascimento e não um ato pessoal. Em virtude da unidade de origem de todos os homens, ele se transmite com a natureza humana aos descendentes de Adão, "não por imitação, mas por propagação". Essa transmissão permanece um mistério que não podemos compreender plenamente. 404 419

77. Que outras consequências provocam o pecado original?

Em consequência do pecado original, a natureza humana, sem ser totalmente corrompida, está ferida em suas forças naturais, submetida à ignorância, ao sofrimento, ao poder da morte e inclinada ao pecado. Essa inclinação é chamada concupiscência. 405-409 418

78. Depois do primeiro pecado, o que fez Deus?

Depois do primeiro pecado, o mundo foi inundado pelos pecados, porém Deus não abandonou o homem ao poder da morte, mas, ao contrário, prognosticou-lhe de modo misterioso - no "Proto-evangelho" (Gn 3,15) - que o mal seria vencido e o homem elevado da queda.

É o primeiro anúncio do Messias redentor. Por isso, a queda será chamada de feliz culpa, porque "mereceu tal e tão grande Redentor"

(Liturgia da Vigília pascal) 410-412 420