Compêndio do Catecismo da Igreja Católica - www.pastoralis.com.br

CAPÍTULO SEGUNDO -"Amarás o teu próximo como a ti mesmo"

O QUARTO MANDAMENTO: HONRAR TEU PAI E TUA MÃE

455. O que ordena o quarto mandamento?

Ordena honrar e respeitar os nossos pais e aqueles que Deus, para o nosso bem, revestiu da sua autoridade. 2196-2200 2247-2248

456. Qual é a natureza da família no plano de Deus?

Um homem e uma mulher unidos em matrimônio formam juntamente com seus filhos uma família. Deus instituiu a família e dotou-a da sua constituição fundamental. O matrimônio e a família são ordenados para o bem dos esposos, para a procriação e para a educação dos filhos. Entre os membros de uma mesma família estabelecem-se relações pessoais e responsabilidades primárias. Em Cristo, a família se torna igreja doméstica, porque é comunidade de fé, de esperança e de amor. 2201-2205 2249

457. Que lugar ocupa a família na sociedade?

A família é a célula originária da sociedade humana e antecede qualquer reconhecimento por parte da autoridade pública.

Os princípios e os valores familiares constituem o fundamento da vida social. A vida de família é uma iniciação à vida da sociedade. 2207-2208

458. Que deveres tem a sociedade em relação à família?

A sociedade tem o dever de apoiar e consolidar o matrimônio e a família, no respeito também do princípio de subsidiariedade. Os poderes públicos devem respeitar, proteger e favorecer a verdadeira natureza do matrimônio e da família, a moral pública, os direitos dos pais e a prosperidade doméstica. 2209-2213 2250

459. Quais são os deveres dos filhos em relação aos pais?

Em relação aos pais, os filhos devem respeito (piedade filial), reconhecimento, docilidade e obediência, contribuindo assim, inclusive com as boas relações entre irmãos e irmãs, para o crescimento da harmonia e da santidade de toda a vida familiar. Quando os pais se encontrarem em situações de indigência, de doença, de solidão ou de velhice, os filhos adultos devem-lhes ajuda moral e material. 2214-2220 2251

460. Quais são os deveres dos pais em relação aos filhos?

Os pais, participantes da paternidade divina, são os primeiros responsáveis pela educação dos seus filhos e os primeiros anunciadores da fé a eles. Têm o dever de amar e respeitar os filhos como pessoas e como filhos de Deus, e de prover, quanto possível, às suas necessidades materiais e espirituais, escolhendo para eles uma escola adequada e ajudando-os com prudentes conselhos na escolha da profissão e do estado de vida. Em particular têm a missão de os educar na fé cristã. 2221-2231

461. Como os pais educam os seus filhos na fé cristã?

Principalmente com o exemplo, a oração, a catequese familiar e a participação na vida eclesial. 2252-2253

462. Os laços familiares são um bem absoluto?

Os vínculos familiares, embora importantes, não são absolutos porque a primeira vocação do cristão é de seguir Jesus, amando-o: "Quem ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim" (Mt 10,37). Os pais devem favorecer com alegria o seguimento de Jesus por parte dos seus filhos, em qualquer estado de vida, mesmo na vida consagrada ou no ministério sacerdotal. 2232-2233

463. Como deve ser exercida a autoridade nos vários âmbitos da sociedade civil?

Deve ser sempre exercida como um serviço, respeitando os direitos fundamentais do homem, uma justa hierarquia dos valores, das leis, a justiça distributiva e o princípio de subsidiariedade. Cada qual, no exercício da autoridade, deve procurar o interesse da comunidade mais que o próprio, e deve inspirar as suas decisões na verdade sobre Deus, sobre o homem e sobre o mundo. 2234-2237 2254

464. Quais são os deveres dos cidadãos em relação às autoridades civis?

Os que se submetem à autoridade devem considerar seus superiores como representantes de Deus, oferecendo-lhes leal colaboração para o bom funcionamento da vida pública e social. Isso comporta o amor e o serviço da pátria, o direito e o dever de voto, o pagamento dos impostos, a defesa do país e o direito a uma crítica construtiva. 2238-2241 2255

465. Quando o cidadão não deve obedecer às autoridades civis?

O cidadão não deve em consciência obedecer quando as ordens das autoridades civis se opõem às exigências da ordem moral: "É preciso obedecer a Deus antes que aos homens" (At 5,29). 2242-2243 2256

O QUINTO MANDAMENTO: NÃO MATARÁS

466. Por que a vida humana deve ser respeitada?

Porque é sagrada. Desde seu início ela comporta a ação criadora de Deus e permanece para sempre numa relação especial com o Criador, seu único fim. A ninguém é lícito destruir diretamente um ser humano inocente, sendo isso gravemente contrário à dignidade da pessoa e à santidade do Criador. "Não mates o inocente nem o justo" (Ex 23,7). 2258-2262 2318-2320

467. Por que a legítima defesa das pessoas e das sociedades não vai contra essa norma?

Porque com a legítima defesa faz-se a escolha de se defender e valoriza-se o direito à vida, própria ou de outro, e não a escolha de matar. A legítima defesa, para quem tem a responsabilidade da vida alheia, pode ser também um grave dever.

Ela não deve, todavia, comportar o uso da violência maior do que o necessário. 2263-2265

468. Para que serve uma pena?

Uma pena, imposta por uma legítima autoridade pública, tem o objetivo de reparar a desordem introduzida pela culpa, de defender a ordem pública e a segurança das pessoas, de contribuir para a correção do culpado. 2266

469. Que pena se pode impor?

A pena imposta deve ser proporcional à gravidade do delito. Depois das possibilidades de que o Estado dispõe para reprimir o crime, tornando inofensivo o culpado, os casos de absoluta necessidade de pena de morte "são hoje muito raros, se não até praticamente inexistentes" (Evangelium vitae). Quando os meios incruentos são suficientes, a autoridade limitar-se-á a esses meios, porque eles correspondem melhor às condições concretas do bem comum, são mais conformes à dignidade da pessoa e não tiram definitivamente do culpado a possibilidade de se redimir. 2267

470. O que proíbe o quinto mandamento?

O quinto mandamento proíbe como gravemente contrários à lei moral:

- o homicídio direto e voluntário, e a cooperação com ele;

- o aborto direto, querido como fim ou como meio, bem como a cooperação com ele, sob pena de excomunhão, porque o ser humano, desde sua concepção, deve ser respeitado e protegido de modo absoluto em sua integridade;

- a eutanásia direta, que consiste em pôr fim, com um ato ou omissão de uma ação devida, à vida de pessoas deficientes, doentes ou próximas da morte;

- o suicídio e a cooperação voluntária com ele, porquanto é uma ofensa grave ao justo amor de Deus, de si e do próximo; quanto à responsabilidade, ela pode ser agravada em razão do escândalo ou atenuada por particulares distúrbios psíquicos ou grave medo. 2268-2283 2321-2326

471. Quais procedimentos médicos são consentidos quando a morte é considerada iminente?

Os cuidados que ordinariamente se devem a uma pessoa doente não podem ser legitimamente interrompidos. São, porém, legítimos o uso de analgésicos, que não tenham a morte como objetivo, e a renúncia à "obstinação terapêutica", ou seja, à utilização de procedimentos médicos desproporcionais e sem razoável esperança de êxito positivo. 2278-2279

472. Por que a sociedade deve proteger todo embrião?

O direito inalienável à vida de todo indivíduo humano desde sua concepção é um elemento constitutivo da sociedade civil e da sua legislação. Quando o Estado não põe sua força a serviço dos direitos de todos e em particular dos mais fracos, entre os quais os concebidos ainda não nascidos, minam-se os fundamentos mesmos de um Estado de direito. 2273-2274

473. Como se evita o escândalo?

O escândalo, que consiste em induzir outros a fazer o mal, evita-se respeitando a alma e o corpo da pessoa. Se se induz deliberadamente outros a pecar gravemente, comete-se uma culpa grave. 2284-2287

474. Que dever temos em relação ao corpo?

Temos de ter um razoável cuidado da saúde física própria e alheia, evitando, todavia, o culto do corpo e toda espécie de excessos. Além disso, devem ser evitados o uso de drogas que causam gravíssimos danos à saúde e à vida humana, e também o abuso dos alimentos, do álcool, do fumo e dos medicamentos. 2288-2291

475. Quando são moralmente legítimas as experiências científicas,médicas ou psicológicas com pessoas ou com grupos humanos?

São moralmente legítimas se estão a serviço do bem integral da pessoa e da sociedade, sem riscos desproporcionais para a vida e a integridade física e psíquica dos indivíduos, oportunamente informados e consencientes. 2292-2295

476. São permitidos o transplante e a doação de órgãos, antes e depois da morte?

O transplante de órgãos é moralmente aceitável com o consentimento do doador e sem riscos excessivos para ele. Para o nobre ato da doação dos órgãos após a morte deve ser plenamente constatada a morte real do doador. 2296

477. Que práticas são contrárias ao respeito da integridade corpórea da pessoa humana?

São: a tomada de reféns e sequestros de pessoa, o terrorismo, a tortura, a violência, a esterilização direta. As amputações e as mutilações de uma pessoa são moralmente permitidas somente para indispensáveis fins terapêuticos dela. 2297-2298

478. Que cuidados se deve ter com os moribundos?

Os moribundos têm direito a viver com dignidade os últimos momentos da sua vida terrena, sobretudo com o apoio da oração e dos sacramentos que preparam para o encontro com o Deus vivo. 2299

479. Como devem ser tratados os corpos dos defuntos?

Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade. Sua cremação é permitida se feita sem pôr em questão a fé na ressurreição dos mortos. 2300-2301

480. O que pede o Senhor de toda pessoa a respeito da paz?

O Senhor, que proclama "felizes os que promovem a paz" (Mt 5,9), pede a paz do coração e denuncia a imoralidade da cólera, que é o desejo de vingança pelo mal recebido, e do ódio, que leva a desejar o mal para o próximo. Essas atitudes, se voluntárias e consentidas em coisas de grande importância, são pecados graves contra a caridade. 2302-2303

481. O que é a paz no mundo?

A paz no mundo, a qual é necessária para o respeito e o desenvolvimento da vida humana, não é simples ausência da guerra ou equilíbrio de forças contrárias, mas é "a tranqüilidade da ordem" (Santo Agostinho), "fruto da justiça" (Is 32,17) e efeito da caridade. A paz terrena é imagem e fruto da paz de Cristo. 2304-2305

482. O que exige a paz no mundo?

Exige a justa distribuição e a tutela dos bens das pessoas, a livre comunicação entre os seres humanos, o respeito pela dignidade das pessoas e dos povos, a prática assídua da justiça e da fraternidade. 2304; 2307-2308

483. Quando é moralmente permitido o uso da força militar?

O uso da força militar é moralmente justificado pela presença contemporânea das seguintes condições: certeza de um durável e grave dano sofrido; ineficácia de toda alternativa pacífica; fundadas possibilidades de êxito; ausência de males piores, considerado o atual poder dos meios de destruição. 2307-2310

484. Em caso de ameaça de guerra, a quem cabe a avaliação rigorosa de tais condições?

Cabe ao juízo prudente dos governantes, a quem compete também o direito de impor aos cidadãos a obrigação da defesa nacional, salvo o direito pessoal à objeção de consciência, a se realizar com outra forma de serviço à comunidade humana. 2309

485. Em caso de guerra, o que exige a lei moral?

A lei moral permanece sempre válida, mesmo em caso de guerra. Ela exige que se tratem com humanidade os não combatentes, os soldados feridos e os prisioneiros. As ações deliberadamente contrárias ao direito dos povos e as disposições que as impõem são crimes que a obediência cega não é suficiente para escusar. Deve-se condenar as destruições de massa, bem como o extermínio de um povo ou de uma minoria étnica, que são pecados gravíssimos, e se tem moralmente a obrigação de resistir às ordens de quem as ordena. 2312-2314 2328

486. O que é preciso fazer para evitar a guerra?

Deve-se fazer tudo o que for razoavelmente possível para evitar de qualquer modo a guerra, dados os males e as injustiças que ela provoca. Em particular, é preciso evitar a acumulação e o comércio das armas não devidamente regulamentadas pelos poderes legítimos; as injustiças, sobretudo econômicas e sociais; as discriminações étnicas e religiosas; a inveja, a suspeita, o orgulho e o espírito de vingança. O que se fizer para eliminar essas e outras desordens ajuda a edificar a paz e a evitar a guerra. 2315-2317 2327-2330

O SEXTO MANDAMENTO: NÃO COMETERÁS ADULTÉRIO

487. Qual é o dever da pessoa humana em relação à própria identidade sexual?

Deus criou o ser humano, homem e mulher, com igual dignidade pessoal, e inscreveu nele a vocação do amor e da comunhão. Cabe a cada um aceitar a própria identidade sexual, reconhecendo sua importância para a pessoa toda, a especificidade e a complementaridade. 2331-2336 2392-2393

488. O que é a castidade?

A castidade é a positiva integração da sexualidade na pessoa. A sexualidade se torna humana quando é integrada de modo justo na relação de pessoa a pessoa. A castidade é uma virtude moral, um dom de Deus, uma graça, um fruto do Espírito. 2337-2338

489. O que comporta a virtude da castidade?

Comporta a aquisição do domínio de si como expressão de liberdade humana voltada ao dom de si. É necessária, para esse fim, uma integral e permanente educação, que se realiza em graduais etapas de crescimento. 2339-2341

490. Quais os meios disponíveis que ajudam a viver a castidade?

Numerosos são os meios à disposição: a graça de Deus, a ajuda dos sacramentos, a oração, o conhecimento de si, a prática de uma ascese adequada às várias situações, o exercício das virtudes morais, em particular da virtude da temperança, que visa fazer guiar as paixões pela razão.

2340-2347

491. De que modo todos são chamados a viver a castidade?

Todos, seguindo a Cristo, modelo de castidade, são chamados a levar uma vida casta segundo o próprio estado de vida: uns vivendo na virgindade ou no celibato consagrado, um modo iminente de se dedicar mais facilmente a Deus com coração indiviso; outros, se casados, vivendo a castidade conjugal; se não casados, vivendo a castidade na continência. 2348-2350 2394

492. Quais são os principais pecados contra a castidade?

São pecados gravemente contrários à castidade, cada qual segundo a natureza do próprio objeto: o adultério, a masturbação, a fornicação, a pornografia, a prostituição, o estupro, os atos homossexuais. Esses pecados são expressão do vício da luxúria. Cometidos com menores, esses atos são um atentado ainda mais grave contra a integridade física e moral deles. 2351-2359 2396

493. Por que o sexto mandamento, embora reze "não cometer adultério", proíbe todos os pecados contra a castidade?

Embora no texto bíblico do Decálogo se leia "não cometer adultério" (Ex 20,14), a Tradição da Igreja segue em conjunto os ensinamentos morais do Antigo e do Novo Testamento e considera o sexto mandamento englobando todos os pecados contra a castidade. 2336

494. Qual é o dever das autoridades civis em relação à castidade?

Elas, por serem obrigadas a promover o respeito da dignidade da pessoa, devem contribuir para criar um ambiente favorável à castidade, até impedindo, com leis adequadas, a difusão de algumas das supracitadas graves ofensas à castidade, para proteger sobretudo os menores e os mais fracos. 2354

495. Quais são os bens do amor conjugal, ao qual se ordena a sexualidade?

Os bens do amor conjugal, que para os batizados é santificado pelo sacramento do matrimônio, são: unidade, fidelidade, indissolubilidade e abertura à fecundidade. 2360-2361 2397-2398

496. Que significado tem o ato conjugal?

O ato conjugal tem um duplo significado: unitivo (a mútua doação dos cônjuges) e procriador (a abertura à transmissão da vida). Ninguém deve romper a conexão inseparável que Deus quis entre os dois significados do ato conjugal, excluindo um ou outro. 2362-2367

497. Quando é moral a regulação dos nascimentos?

A regulação dos nascimentos, que representa um dos aspectos da paternidade e maternidade responsáveis, é objetivamente conforme à moralidade quando é feita pelos esposos sem imposições externas, não por egoísmo, mas por sérios motivos e com métodos conformes aos critérios objetivos da moralidade, ou seja, com a continência periódica e o recurso aos períodos infecundos. 2368-2369 2399

498. Quais são os meios imorais para a regulação dos nascimentos?

É intrinsecamente imoral toda ação - como, por exemplo, a esterilização direta ou contracepção - que, em previsão do ato conjugal, ou na sua realização, ou no desdobramento das suas conseqüências naturais, se proponha como objetivo ou como meio impedir a procriação. 2370-2372

499. Por que a inseminação e a fecundação artificial são imorais?

São imorais porque dissociam a procriação do ato com que os esposos se dão mutuamente, instaurando assim um domínio da técnica sobre a origem e sobre o destino da pessoa humana. Além disso, a inseminação e a fecundação heteróloga, com o recurso a técnicas que envolvem uma pessoa estranha ao casal conjugal, ferem o direito do filho de nascer de um pai e de uma mãe conhecidos por ele, ligados entre si pelo matrimônio e com o direito exclusivo a se tornarem pais somente um por meio do outro. 2373-2377

500. Como deve ser considerado um filho?

O filho é um dom de Deus, o dom maior do matrimônio. Não existe um direito a ter filhos ("o filho devido, a todo custo"). Existe, sim, o direito do filho de ser o fruto do ato conjugal dos seus pais e também o direito de ser respeitado como pessoa desde o momento de sua concepção. 2378

501. O que podem fazer os esposos quando não têm filhos?

Quando o dom do filho não lhes é concedido, os esposos, depois de ter esgotado os legítimos recursos à medicina, podem mostrar sua generosidade mediante a guarda ou adoção, ou pela prestação de serviços significativos a favor do próximo. Realizam assim uma valiosa fecundidade espiritual. 2379

502. Quais são as ofensas à dignidade do matrimônio?

São: o adultério, o divórcio, a poligamia, o incesto, a união livre (convivência, concubinato), o ato sexual antes ou fora do matrimônio. 2380-2391 2400

O SÉTIMO MANDAMENTO: NÃO ROUBARÁS

503. O que enuncia o sétimo mandamento?

Enuncia a destinação e a distribuição universal dos bens, a propriedade privada e o respeito às pessoas, a seus bens e à integridade da criação. A Igreja tem fundamentada nesse mandamento também a sua doutrina social, que compreende o reto agir na atividade econômica e na vida social e política, o direito e o dever do trabalho humano, a justiça e a solidariedade entre as nações, o amor pelos pobres. 2401-2402

504. Em que condições existe o direito à propriedade privada?

0 direito à propriedade privada existe desde que adquirida ou recebida de modo justo e desde que continue primordial a destinação universal dos bens para a satisfação das necessidades fundamentais de todos os homens. 2403

505. Qual é o fim da propriedade privada?

O fim da propriedade privada é garantir a liberdade e a dignidade das pessoas individualmente, ajudando-as a satisfazer as necessidades fundamentais próprias daqueles de quem se tem responsabilidade e também de outros que vivem em necessidade. 2404-2406

506. O que prescreve o sétimo mandamento?

O sétimo mandamento prescreve o respeito aos bens alheios, mediante a prática da justiça e da caridade, da temperança e da solidariedade. Em particular, exige o respeito das promessas e dos contratos estipulados; a reparação da injustiça cometida e a restituição do que foi roubado; o respeito da integridade da criação mediante o uso prudente e moderado dos recursos minerais, vegetais e animais que estão no universo, com especial atenção para as espécies ameaçadas de extinção. 2407 2450-2451

507. Que comportamento deve ter o homem em relação aos animais?

O homem deve tratar os animais, criaturas de Deus, com benevolência, evitando quer o excessivo amor em relação a eles, quer seu uso indiscriminado, sobretudo para experimentações científicas efetuadas fora dos limites razoáveis e com inúteis sofrimentos para os animais. 2416-2418 2457

508. O que proíbe o sétimo mandamento?

O sétimo mandamento proíbe em primeiro lugar o furto, que é a usurpação do bem alheio contra a razoável vontade do proprietário. Isso se verifica também no pagamento de salários injustos; na especulação sobre o valor dos bens para disso tirar vantagem com prejuízo de outros; na falsificação de cheques ou de faturas. Proíbe, além disso, cometer fraudes fiscais ou comerciais, causar voluntariamente um dano às propriedades privadas ou públicas. Proíbe também a usura, a corrupção, o abuso privado de bens sociais, os trabalhos mal realizados de modo culposo, o desperdício. 2408-2413 2453-2455

509. Qual é o conteúdo da doutrina social da Igreja?

A doutrina social da Igreja, como desenvolvimento orgânico da verdade do Evangelho sobre a dignidade da pessoa humana e sobre sua dimensão social, contém princípios de reflexão, formula critérios de juízo e oferece normas e orientações para a ação. 2419-2423

510. Quando a Igreja intervém em matéria social?

A Igreja intervém ao emitir um juízo moral em matéria econômica e social quando isso é exigido pelos direitos fundamentais da pessoa, pelo bem comum ou pela salvação das almas. 2420 2458

511. Como deve ser exercida a vida social e econômica?

Deve ser exercida, segundo os próprios métodos, no âmbito da ordem moral, a serviço do homem em sua integralidade e de toda a comunidade humana, no respeito da justiça social. Ela deve ter o homem como autor, centro e fim. 2459

512. O que se opõe à doutrina social da Igreja?

Opõem-se à doutrina social da Igreja os sistemas econômicos e sociais que sacrificam os direitos fundamentais das pessoas, ou que fazem do lucro sua regra exclusiva ou seu fim último. Por isso a Igreja recusa as ideologias associadas nos tempos modernos ao "comunismo" ou às formas ateias e totalitárias de "socialismo". Além disso, rejeita, na prática do "capitalismo", o individualismo e a primazia absoluta da lei do mercado sobre o trabalho humano. 2424-2425

513. Que significado tem o trabalho para o homem?

O trabalho para o homem é um dever e um direito, mediante o qual ele colabora com Deus criador. Com efeito, trabalhando com empenho e competência, a pessoa põe em prática capacidades inscritas na sua natureza, exalta os dons do Criador e os talentos recebidos, sustenta a si mesmo e a seus filhos, serve a comunidade humana. Além disso, com a graça de Deus, o trabalho pode ser meio de santificação e de colaboração com Cristo para a salvação dos outros. 2426-2428 2460-2461

514. A que tipo de trabalho tem direito toda pessoa?

O acesso a um seguro e honesto trabalho deve estar aberto a todos, sem injusta discriminação, no respeito da livre iniciativa econômica e de uma justa retribuição. 2429,2433-2434

515. Qual é a responsabilidade do Estado a respeito do trabalho?

Cabe ao Estado promover a segurança em relação às garantias das liberdades individuais e da propriedade, além de uma moeda estável e serviços públicos eficazes; vigiar e guiar o exercício dos direitos humanos no setor econômico. Em relação às circunstâncias, a sociedade deve ajudar os cidadãos a encontrar trabalho. 2431

516. Que dever têm os dirigentes de empresas?

Os dirigentes de empresas têm a responsabilidade econômica e ecológica das suas operações. Devem considerar o bem das pessoas e não apenas o aumento dos lucros, embora eles sejam necessários para assegurar os investimentos, o futuro das empresas, a ocupação e o bom andamento da vida econômica. 2432

517. Que deveres têm os trabalhadores?

Eles devem exercer seu trabalho com consciência, competência e dedicação, procurando resolver as eventuais controvérsias com o diálogo. O recurso à greve não-violenta é moralmente legítimo quando parece ser o instrumento necessário em vista de uma vantagem proporcional e ao levar em conta o bem comum. 2435

518. Como se realiza a justiça e a solidariedade entre as nações?

No plano internacional, todas as nações e instituições devem agir com base na solidariedade e subsidiariedade, com o fim de eliminar ou pelo menos reduzir a miséria, a desigualdade dos recursos e dos meios econômicos, as injustiças econômicas e sociais, a exploração das pessoas, o acúmulo das dívidas dos países pobres, os mecanismos perversos que obstaculizam o desenvolvimento dos países menos progredidos. 2437-2441

519. De que modo os cristãos participam da vida política e social?

Os fiéis leigos intervêm diretamente na vida política e social animando, com espírito cristão, as realidades temporais e colaborando com todos, como autênticas testemunhas do Evangelho e agentes de paz e de justiça. 2442

520. Em que se inspira o amor pelos pobres?

O amor pelos pobres se inspira no Evangelho das bem-aventuranças e no exemplo de Jesus, na sua constante atenção pelos pobres. Jesus disse: "Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, foi a mim que o fizestes" (Mt

25,40). 0 amor pelos pobres se verifica mediante o empenho contra a pobreza material e também contra as numerosas formas de pobreza cultural, moral e religiosa. As obras de misericórdia, espirituais e corporais, e as numerosas instituições benéficas surgidas ao longo dos séculos são um concreto testemunho do amor preferencial pelos pobres que caracteriza os discípulos de Jesus. 2443-2449 2462-2463

O OITAVO MANDAMENTO: NÃO DARÁS FALSO TESTEMUNHO

521. Qual o dever do homem a respeito da verdade?

Toda pessoa é chamada à sinceridade e à veracidade no agir e no falar. Cada um tem o dever de procurar a verdade e de a ela aderir, ordenando toda a própria vida segundo as exigências da verdade. Em Jesus Cristo, a verdade de Deus se manifestou inteiramente: ele é a Verdade. Quem o segue vive no Espírito de verdade, e é avesso à duplicidade, à simulação e à hipocrisia. 2464-2470 2504

522. Como se dá testemunho da verdade?

O cristão deve dar testemunho da verdade evangélica em todos os campos da sua atividade pública e privada, mesmo com o sacrifício, se necessário, da própria vida. 0 martírio e o supremo testemunho prestado à verdade da fé. 2471-2474 2505-2506

523. O que proíbe o oitavo mandamento?

O oitavo mandamento proíbe:

-o falso testemunho e o perjúrio, a mentira, cuja gravidade se mede pela verdade que ela deforma, pelas circunstâncias, pelas intenções do mentiroso e pelos danos sofridos pelas vítimas;

-o juízo temerário, a maledicência, a difamação, a calúnia, que diminuem ou destroem a boa reputação e a honra, a que tem direito toda pessoa;

-a bajulação, a adulação ou complacência, sobretudo se endereçada a pecados graves ou à consecução de vantagens ilícitas.

Uma culpa cometida contra a verdade comporta a reparação se causou danos a outros. 2475-2487 2507-2509

524. O que pede o oitavo mandamento?

O oitavo mandamento pede o respeito à verdade, acompanhado pela discrição da caridade: na comunicação e na informação, que devem avaliar o bem pessoal e comum, a defesa da vida privada, o perigo de escândalo; na manutenção dos segredos profissionais, que devem sempre ser mantidos, exceto casos excepcionais por graves e proporcionais motivos. E é também exigido o respeito pelas confidências feitas sob sigilo. 2488-2492 2510-2511

525. Como deve ser o uso dos meios de comunicação social?

A informação midiática deve estar a serviço do bem comum e no seu conteúdo deve ser sempre verdadeira e, salvas a justiça e caridade, também íntegra. Deve, além disso, exprimir-se de modo honesto e conveniente, respeitando escrupulosamente as leis morais, os legítimos direitos e a dignidade da pessoa. 2493-2499 2512

526. Que relação existe entre verdade, beleza e arte sacra?

A verdade é bela em si mesma. Ela comporta o esplendor da beleza espiritual. Existem, além da palavra, numerosas formas de expressão da verdade, em particular as obras artísticas. São fruto de um talento dado por Deus e do esforço do homem. A arte sacra, para ser verdadeira e bela, deve evocar e glorificar o Mistério de Deus que se mostrou em Cristo e levar à adoração e ao amor de Deus Criador e Salvador, Beleza excelsa de Verdade e de Amor. 2500-2503 2513

O NONO MANDAMENTO: NAO COBIÇARAS A MULHER DO TEU PRÓXIMO

527. O que pede o nono mandamento?

O nono mandamento pede que se vença a concupiscência carnal nos pensamentos e nos desejos. A luta contra essa concupiscência passa pela purificação do coração e pela prática da virtude da temperança. 2514-2516 2528-2530

528. O que proíbe o nono mandamento?

O nono mandamento proíbe cultivar pensamentos e desejos relativos às ações proibidas pelo sexto mandamento. 2517-2519 2531-2532

529. Como se chega à pureza do coração?

O batizado, com a graça de Deus e lutando contra os desejos desordenados, chega à pureza do coração mediante a virtude e o dom da castidade, a pureza de intenção, a transparência do olhar exterior e interior, a disciplina dos sentimentos e da imaginação, a oração. 2520

530. Que outras exigências tem a pureza?

A pureza exige o pudor, que, guardando a intimidade da pessoa, exprime a delicadeza da castidade e regula olhares e gestos em conformidade com a dignidade das pessoas e da sua comunhão. Ela livra do erotismo geral e mantém longe de tudo o que favorece a curiosidade doentia. Exige também uma purificação do ambiente social, mediante uma luta constante contra a permissividade dos costumes, baseada numa errônea consciência da liberdade humana. 2521-2527 2533

O DÉCIMO MANDAMENTO: NÃO DESEJARÁS COISA ALGUMA DE TEU PRÓXIMO

531. O que exige e o que proíbe o décimo mandamento?

Esse mandamento, que completa o anterior, exige uma atitude interior de respeito com referência a propriedade alheia e proíbe a avidez, a ambição desenfreada dos bens alheios e a inveja, que consiste na tristeza sentida diante dos bens alheios e no desejo descomedido de se apropriar deles. 2534-2540 2551-2554

532. O que pede Jesus com a pobreza de coração?

A seus discípulos Jesus pede que 0 prefiram a tudo e a todos. 0 desapego das riquezas - segundo o espírito da pobreza evangélica - e o abandono à providência de Deus, que nos liberta da preocupação pelo dia de amanhã, preparam para a bem-aventurança dos "pobres de coração, pois deles é o Reino dos céus" (Mt 5,3). 2544-2547 2556

533. Qual é o maior desejo do homem?

O maior desejo do homem é o de ver a Deus. Esse é o clamor de todo o seu ser: "Quero ver a Deus!". O homem, com efeito, realiza a sua verdadeira e plena felicidade na visão e na bem-aventurança daquele que o criou por amor e o atrai a si no seu infinito amor. 2548-2550 2557 "Quem vê a Deus obteve todos os bens que podemos imaginar" (São Gregório de Nissa).