Compêndio do Catecismo da Igreja Católica - www.pastoralis.com.br

III Parte – A Vida em Cristo

Primeira Seção - A Vocação do Homem: A Vida no Espírito

CAPÍTULO PRIMEIRO - A dignidade da pessoa humana

O HOMEM IMAGEM DE DEUS

358. Qual é o fundamento da dignidade humana?

A dignidade da pessoa humana está fundamentada na criação à imagem e semelhança de Deus. Dotada de uma alma espiritual e imortal, de inteligência e de livre vontade, a pessoa humana está ordenada a Deus e chamada, com a sua alma e o seu corpo, à bem-aventurança eterna. 1699-1715

A NOSSA VOCAÇÃO À BEM-AVENTURANÇA

359. Como o homem atinge a bem-aventurança?

O homem atinge a bem-aventurança em virtude da graça de Cristo, que o torna participante da vida divina. Cristo, no Evangelho, aponta aos seus o caminho que leva à felicidade sem fim: as Bem-aventuranças. A graça de Cristo opera também em todo homem que, seguindo a reta consciência, procura e ama a verdade e o bem, e evita o mal. 1716

360. Por que as bem-aventuranças são importantes para nós?

As bem-aventuranças estão no centro da pregação de Jesus, retomam e levam à perfeição as promessas de Deus, feitas a partir de Abraão. Pintam o próprio rosto de Jesus, caracterizam a autêntica vida cristã e desvendam ao homem o fim último do seu agir: a bem-aventurança eterna. 1716-1717 1725-1726

361. Como se relacionam as bem-aventuranças com o desejo de felicidade do homem?

Elas respondem ao desejo natural de felicidade que Deus pôs no coração do homem para o atrair a si e que somente ele pode saciar. 1718-1719

362. O que é a bem-aventurança eterna?

É a visão de Deus, na vida eterna, na qual nós entraremos plenamente "em comunhão com a natureza divina" (2Pd 1,4), com a glória de Cristo e com o gozo da vida trinitária. A bem-aventurança ultrapassa as capacidades humanas: é um dom sobrenatural e gratuito de Deus, como a graça que a ela conduz. A bem-aventurança prometida nos põe diante de escolhas morais decisivas com relação aos bens terrenos, estimulando-nos a amar a Deus acima de todas as coisas. 1720-1724 1727-1729

A LIBERDADE DO HOMEM

363. O que é a liberdade?

É o poder dado por Deus ao homem de agir ou de não agir, de fazer isto ou aquilo, de estabelecer assim por si mesmo ações deliberadas. A liberdade caracteriza os atos propriamente humanos. Quanto mais fazemos o bem, tanto mais nos tornamos livres. A liberdade atinge a própria perfeição quando está ordenada a Deus, sumo Bem e nossa Bem-aventurança.

A liberdade implica também a possibilidade de escolher entre o bem e o mal. A escolha do mal é um abuso da liberdade, que leva à escravidão do pecado. 1730-1733 1743-1744

364. Que relação existe entre liberdade e responsabilidade?

A liberdade torna o homem responsável pelos seus atos na medida em que são voluntários, ainda que a imputabilidade e a responsabilidade de uma ação possam ficar diminuídas e às vezes ser anuladas pela ignorância, pela inadvertência, pela violência sofrida, pelo medo, pelas afeições imoderadas, pelos hábitos. 1734-1737 1745-1746

365. Por que todo homem tem direito ao exercício da liberdade?

O direito ao exercício da liberdade é próprio de todo homem, porquanto é inseparável da sua dignidade de pessoa humana. Portanto, esse direito deve ser sempre respeitado, particularmente no campo moral e religioso, e deve ser civilmente reconhecido e protegido nos limites do bem comum e da justa ordem pública. 1738-1747

366. Como se situa a liberdade humana na ordem da salvação?

A nossa liberdade está fraca por causa do primeiro pecado. O enfraquecimento se torna mais agudo pelos pecados sucessivos. Mas Cristo "nos libertou para sermos verdadeiramente livres" (Gl 5,1). Com a sua graça o Espírito Santo nos conduz à liberdade espiritual, para nos fazer seus livres colaboradores na Igreja e no mundo. 1739-1742 1748

367. Quais são as fontes da moralidade dos atos humanos?

A moralidade dos atos humanos depende de três fontes: do objeto escolhido, ou seja, um bem verdadeiro ou aparente; da intenção do sujeito que age, ou seja, do fim pelo qual ele realiza a ação; das circunstâncias da ação, inclusive as consequências. 1749-1754 1757-1758

368. Quando o ato é moralmente bom?

O ato é moralmente bom quando supõe ao mesmo tempo a bondade do objeto, do fim e das circunstâncias. O objeto escolhido pode, sozinho, viciar toda a ação, ainda que a intenção seja boa. Não é lícito fazer o mal para que dele venha um bem. Um fim mau pode corromper a ação, ainda que o seu objeto, em si, seja bom. Ao contrário, um fim bom não torna bom um comportamento que por seu objeto é mau, porquanto o fim não justifica os meios. As circunstâncias podem atenuar ou aumentar a responsabilidade de quem age, mas não podem modificar a qualidade moral dos próprios atos, jamais tornam boa uma ação em si má. 1755-1756 1759-1760

369. Há atos que são sempre ilícitos? Há atos cuja escolha é sempre ilícita por motivo do seu objeto (por exemplo, a blasfêmia, o homicídio, o adultério). A escolha deles comporta uma desordem da vontade, ou seja, um mal moral, que não pode ser justificado com o recurso aos bens que eventualmente dele pudessem derivar. 1756,1761

A MORALIDADE DAS PAIXÕES

370. O que são as paixões?

As paixões são os afetos, as emoções ou os movimentos da sensibilidade - componentes naturais da psicologia humana - que estimulam a agir ou a não agir em vista do que é percebido como bom ou como mau. As principais são o amor e o ódio, o desejo e o temor, a alegria, a tristeza, a cólera. A paixão principal é o amor, provocado pela atração do bem. Não se ama senão o bem, verdadeiro ou aparente. 1762-1766 1771-1772

371. As paixões são moralmente boas ou más?

As paixões, como movimentos da sensibilidade, não são nem boas nem más em si mesmas: são boas quando contribuem para uma ação boa; são más em caso contrário. Elas podem ser assumidas em virtudes ou pervertidas em vícios. 1767-1770 1773-1775

A CONSCIÊNCIA MORAL

372. O que é a consciência moral?

A consciência moral, presente no íntimo da pessoa, é um juízo da razão, que, no momento oportuno, impõe ao homem fazer o bem e evitar o mal. Graças a ela a pessoa humana percebe a qualidade moral de um ato a ser realizado ou já realizado, permitindo-lhe assumir sua responsabilidade. Quando escuta a consciência moral, o homem prudente pode ouvir a voz de Deus que lhe fala. 1776-1780 1795-1797

373. O que implica a dignidade da pessoa em relação à consciência moral?

A dignidade da pessoa humana implica a retidão da consciência moral (ou seja, que esteja de acordo com o que é justo e bom segundo a razão e a Lei divina). Por motivo da mesma dignidade pessoal, o homem não deve ser obrigado a agir contra a consciência e não se deve sequer impedi-lo, dentro dos limites do bem comum, de operar em conformidade com ela, sobretudo no campo religioso. 1780-1782 1798

374. Como se forma a consciência moral para que seja reta e verídica?

A consciência moral reta e verídica forma-se com a educação, com a assimilação da Palavra de Deus e do ensinamento da Igreja. É sustentada pelos dons do Espírito Santo e ajudada pelos conselhos de pessoas sábias. Além disso, para a formação moral concorrem muito a oração e o exame de consciência. 1783-1788 1799-1800

375. Que normas a consciência deve sempre seguir?

Há três mais gerais: 1) jamais é permitido fazer o mal para que dele provenha um bem; 2) a chamada Regra de ouro: "Tudo aquilo que quereis que os homens façam a vós, fazei-o vós mesmos a eles" (Mt 7,12); 3) A caridade passa sempre pelo respeito do próximo e da sua consciência, ainda que isso não signifique aceitar como um bem o que e objetivamente um mal. 1789

376. A consciência moral pode emitir juízos errôneos?

A pessoa deve sempre obedecer ao juízo certo da própria consciência, mas pode emitir também juízos errôneos, por causas nem sempre isentas de culpa pessoal. Não é, porém, imputável à pessoa o mal realizado por ignorância involuntária, ainda que isso seja objetivamente um mal. É, portanto, necessário esforçar-se para corrigir a consciência moral dos seus erros. 1790-1794 1801-1802

377. O que é a virtude?

A virtude é uma disposição habitual e firme de fazer o bem. "O fim de uma vida virtuosa consiste em se tornar semelhante a Deus" (São Gregório de Nissa). Há virtudes humanas e virtudes teologais. 1803,1833

378. O que são as virtudes humanas?

As virtudes humanas são perfeições habituais e estáveis da inteligência e da vontade, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e orientam a nossa conduta em conformidade com a razão e a fé. Adquiridas e fortalecidas por meio de atos moralmente bons e repetidos, são purificadas e elevadas pela graça divina. 1804 1810-1811 1834,1839

379. Quais são as principais virtudes humanas?

São as virtudes denominadas cardeais, que agrupam todas as demais e que constituem os eixos da vida virtuosa. São elas: prudência, justiça, fortaleza e temperança. 1805 1834

380. O que é a prudência?

A prudência dispõe a razão a discernir, em cada circunstância, o nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para o pôr em prática. Ela guia as outras virtudes, indicando-lhes regra e medida. 1806 1835

381. O que é a justiça?

A justiça consiste na vontade constante e firme de dar aos outros o que lhes é devido. A justiça para com Deus é chamada de "virtude de religião". 1807 1836

382. O que é a fortaleza?

A fortaleza assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem, chegando até a capacidade do eventual sacrifício da própria vida por uma causa justa. 1808 1837

383. O que é a temperança?

A temperança modera a sedução dos prazeres, garante o domínio da vontade sobre os instintos e dá capacidade de equilíbrio no uso dos bens criados. 1809 1838

384. O que são as virtudes teologais?

São as virtudes que têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus. Infundidas no homem com a graça santificante, elas nos tornam capazes de viver em relação com a Trindade e fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando as virtudes humanas. São o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano. 1812-1813 1840-1841

385. Quais são as virtudes teologais?

As virtudes teologais são fé, esperança e caridade. 1813

386. O que é a fé?

A fé é a virtude teologal pela qual nós cremos em Deus e em tudo o que ele nos revelou e que a Igreja nos propõe crer, porque Deus é a própria Verdade. Com a fé o homem se abandona livremente em Deus. Por isso, o fiel procura conhecer e fazer a vontade de Deus, porque "a fé age pelo amor" (Gl 5,6). 1814-1816 1842

387. O que é a esperança?

A esperança é a virtude teologal pela qual nós desejamos e esperamos de Deus a vida eterna como nossa felicidade, repondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos o auxílio da graça do Espírito Santo para merecê-la e perseverar até o fim da vida terrena.

1817-1821 1843

388. O que é a caridade?

A caridade é a virtude teologal pela qual nós amamos a Deus acima de tudo e o nosso próximo como nós mesmos por amor de Deus. Jesus faz dela o mandamento novo, a plenitude da Lei. Ela é "o vínculo perfeito" (Cl 3,14) .e o fundamento das outras virtudes, que anima, inspira e ordena: sem ela "não sou nada" e "nada lucro" (1Cor 13,1-3). 1822-1829 1844

389. O que são os dons do Espírito Santo?

Os dons do Espírito Santo são disposições permanentes que tornam o homem dócil para seguir as inspirações divinas. São sete: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. 1830-1831 1845

390. O que são os frutos do Espírito Santo?

Os frutos do Espírito Santo são perfeições plasmadas em nós como primícias da glória eterna. A tradição da Igreja enumera doze: "Caridade, alegria, paz, paciência, longanimidade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência, castidade" (Gl 5,22-23 vulg.). 1832

O PECADO

391.O que comporta em nós o acolhimento da misericórdia de Deus?

Comporta que reconheçamos as nossas culpas, arrependendo-nos dos nossos pecados. O próprio Deus, com a sua Palavra e o seu Espírito, desvela os nossos pecados, dá-nos a verdade da consciência e a esperança do perdão. 1846-1848 1870

392. O que é o pecado?

O pecado é "uma palavra, um ato ou um desejo contrários à Lei eterna" (Santo Agostinho). É uma ofensa a Deus, na desobediência a seu amor. Ele fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. Cristo na sua Paixão desvela plenamente a gravidade do pecado e o vence com a sua misericórdia. 1849-1851 1871-1872

393. Existe uma variedade de pecados?

A variedade dos pecados é grande. Eles podem ser distintos segundo seu objeto ou segundo as virtudes ou os mandamentos aos quais se opõem. Podem-se referir diretamente a Deus, ao próximo ou a nós mesmos. Além disso, podem-se distinguir pecados de pensamento, de palavra, de ação e de omissão. 1852-1853 1873

394. Como se distingue o pecado, em relação à gravidade?

Distingue-se em pecado mortal e venial. 1854

395. Quando se comete o pecado mortal?

Comete-se o pecado mortal quando ao mesmo tempo há matéria grave, plena consciência e consenso deliberado. Esse pecado destrói em nós a caridade, priva-nos da graça santificante, leva-nos à morte eterna do inferno se não nos arrependermos. É perdoado ordinariamente mediante os sacramentos do Batismo e da Penitência ou Reconciliação. 1855-1861 1874

396. Quando se comete o pecado venial?

Comete-se o pecado venial, que se diferencia essencialmente do pecado mortal, quando se tem matéria leve, ou também grave, mas sem plena consciência ou total consenso. Ele não rompe a aliança com Deus, mas enfraquece a caridade; manifesta uma afeição desordenada pelos bens criados; obstaculiza os progressos da alma no exercício das virtudes e na prática do bem moral; merece penas purificadoras temporais. 1862-1864 1875

397. Como prolifera em nós o pecado?

O pecado leva ao pecado, e a sua repetição gera o vício. 1865,1876

398. O que são os vícios?

Os vícios, sendo o contrário das virtudes, são hábitos perversos que ofuscam a consciência e inclinam ao mal. Os vícios podem estar unidos aos sete pecados chamados capitais, que são: soberba, avareza, inveja, ira, impureza, gula, preguiça ou acídia. 1866-1867

399. Existe uma responsabilidade nossa nos pecados cometidos pelos outros?

Existe essa responsabilidade quando neles cooperamos com culpa. 1868

400. O que são as estruturas do pecado?

São situações sociais ou institucionais contrárias à lei divina, expressão e efeito de pecados pessoais. 1869