INTRODUÇÃO

TEÓFANES DE CRETA (1546), Ícone de Cristo,Mosteiro Stavronikita (Monte Athos)

O ícone de Cristo Pantocrator (que, em grego, significa "aquele que tem poder sobre tudo"), de rara beleza artística, traz à mente a palavra do Salmista: "Tu és o mais belo dos homens, nos teus lábios se espalha a graça" (SI 45,3). São João Crisóstomo, aplicando esse louvor ao Senhor Jesus, escrevia: "O Cristo estava na flor da idade, no vigor do Espírito e nele resplandecia uma dupla beleza, a da alma e a do corpo" (PG 52, 479). Com sua linguagem figurativa, este ícone constitui a síntese dos primeiros concílios ecuménicos, conseguindo representar tanto o esplendor da humanidade como o fulgor da divindade de Jesus. O Cristo está revestido de uma túnica vermelha, coberta com um manto azul escuro. As duas cores recordam sua dupla natureza, enquanto os reflexos dourados remetem à pessoa divina do Verbo. Do ombro direito desce uma estola dourada, símbolo do seu sacerdócio eterno. O rosto, majestoso e sereno, emoldurado por uma abundante cabeleira e circundado por uma auréola em forma de cruz, traz o trigrama "O ON" ("Aquele que é"), que remete à revelação do nome de Deus em Ex 3,14. No alto, aos lados do ícone, estão os dois dígrafos: "IC - XC" ("lesus" - "Christus"), que constituem o título da imagem. A mão direita, com o polegar e o anular dobrados a ponto de tocar-se (a indicar a dupla natureza de Cristo na unidade da pessoa), aparece no típico gesto de bênção. A mão esquerda, ao contrário, sustenta o livro do Evangelho, ornamentado por três fechos e por pérolas e pedras preciosas. O Evangelho, símbolo e síntese da Palavra de Deus, tem também um significado litúrgico, dado que na celebração eucarística se lê um de seus trechos e se recitam as próprias palavras de Jesus na consagração.

A imagem, síntese sublime de dados naturais e simbólicos, é um convite à contemplação e ao seguimento. Ainda hoje Jesus, por meio da Igreja, sua esposa e seu corpo místico, continua a abençoar a humanidade e a iluminá-la com seu Evangelho, o autêntico livro da verdade, da felicidade e da salvação do homem.

Em agosto de 386, enquanto se encontrava num jardim, Agostinho ouviu uma voz que dizia: "Toma e lê, toma e lê" (Confissões, VIII, 12,29). O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, síntese do Evangelho de Jesus ensinado pela catequese da Igreja, é um convite a abrir o livro da verdade e a lê-lo, antes, a devorá-lo, como fez o profeta Ezequiel (cf. Ez 3,1-4).

INTRODUÇÃO

1. No dia 11 de outubro de 1992, o Papa João Paulo II entregava aos fiéis de todo o mundo o Catecismo da Igreja Católica, apresentando-o como "texto de referência"(1) para uma catequese renovada nas fontes da fé. Trinta anos depois do Concílio Vaticano II (1962-1965), era assim levado à feliz realização o desejo expresso, em 1985, pela Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, para que fosse composto um catecismo de toda a doutrina católica, quer para a fé, quer para a moral.

Cinco anos mais tarde, no dia 15 de agosto de 1997, publicando a edição típica do Catecismo da Igreja Católica, o Sumo Pontífice confirmava a finalidade fundamental da obra: "ser uma exposição completa e íntegra da doutrina católica, que dá a todos a possibilidade de conhecer aquilo que a Igreja mesma professa, celebra, vive, prega na sua vida cotidiana"(2).

2. Para uma valorização maior do Catecismo, e para vir ao encontro de um pedido surgido no Congresso Catequético Internacional de 2002, João Paulo II instituía, em 2003, uma Comissão especial, presidida pelo Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, com a tarefa de elaborar um Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, que contivesse uma formulação mais sintética dos mesmos conteúdos da fé. Depois de dois anos de trabalho, foi preparado um projeto de Compêndio e enviado para a consulta aos Cardeais e Presidentes das Conferências Episcopais. O projeto, no seu conjunto, teve a avaliação positiva da maioria absoluta daqueles que responderam. A Comissão passou, portanto, à revisão do citado projeto e, levando em conta as propostas para o seu aperfeiçoamento, completou a elaboração da obra.

3. Três são as características principais do Compêndio: a estreita dependência do Catecismo da Igreja Católica; o género dialógico; e a utilização de imagens na catequese.

Antes de tudo, o Compêndio não é uma obra fechada sobre si mesma e não pretende, de maneira nenhuma, substituir o Catecismo da Igreja Católica; pelo contrário, remete continuamente ao Catecismo, quer pela indicação específica dos números de referência, quer pela contínua rela ção com a sua estrutura, seu desenvolvimento, seus conteúdos. O Compêndio, além disso, se propõe a despertar um renovado interesse e fervor para o Catecismo, que com sua sabedoria expositiva e com sua unção espiritual permanece sempre o texto de base da catequese eclesial hoje.

Como o Catecismo, também o Compêndio se articula em quatro partes, em correspondência com as leis fundamentais da vida em Cristo.

A primeira parte, intitulada "A profissão de fé", contém uma oportuna síntese da "lex credendi", isto é, da fé professada pela Igreja Católica, retirada do Símbolo Apostólico ilustrado com o Niceno-Constantinopolitano, cuja constante proclamação nas assembleias cristãs mantém viva a memória das principais verdades da fé.

A segunda parte, intitulada "A celebração do mistério cristão", apresenta os elementos essenciais da "lex celebrandi". O anúncio do Evangelho encontra, de fato, a sua resposta privilegiada na vida sacramental. Nela, os fiéis experimentam e testemunham em cada momento de sua existência a eficácia salvífica do mistério pascal, por meio do qual Cristo realizou a obra da nossa redenção.

A terceira parte, intitulada "A vida em Cristo", evoca a "lex vivendi", isto é, o esforço que os balizados fazem para manifestar nos seus comportamentos e nas suas escolhas éticas a fidelidade à fé professada e celebrada. Os fiéis, de fato, são chamados pelo Senhor Jesus a realizar as obras próprias de sua dignidade de filhos do Pai na caridade do Espírito Santo.

A quarta parte, intitulada "A oração cristã", oferece uma síntese da "lex orandi", isto é, da vida de oração. A exemplo de Jesus, o modelo perfeito de orante, também o cristão é chamado ao diálogo com Deus na oração, cuja expressão privilegiada é o Pai-Nosso, a oração ensinada pelo próprio Jesus.

4. Uma segunda característica do Compêndio é a sua forma dialógica, que retoma um antigo género literário catequético feito de perguntas e respostas. Trata-se de propor um diálogo ideal entre o mestre e o discípulo mediante uma sequência instigante de perguntas que envolvem o leitor, convidando-o a prosseguir na descoberta dos aspectos sempre novos da verdade sobre a fé. O gênero dialógico ajuda também a abreviar notavelmente o texto, reduzindo-o ao essencial. Isso poderia favorecer a assimilação e a eventual memorização dos conteúdos.

5. Uma terceira característica é dada pela presença de algumas imagens, que marcam a articulação do Compêndio. Elas provêm do rico património da iconografia cristã. A partir da secular tradição conciliar, aprendemos que também a imagem é pregação evangélica. Os artistas de todos os tempos ofereceram à contemplação e à admiração dos fiéis os fatos salientes do mistério da salvação, apresentando-os no esplendor da cor e na perfeição da beleza. Isso é um indício de como hoje, mais que nunca, na civilização da imagem, a imagem sagrada pode exprimir muito mais que a própria palavra, uma vez que é muito eficaz o seu dinamismo de comunicação e de transmissão da mensagem evangélica.

6. Quarenta anos depois da conclusão do Concílio Vaticano II e no Ano da Eucaristia, o Compêndio pode representar um ulterior subsídio para satisfazer tanto a fome de verdade dos fiéis de todas as idades e condições como também a necessidade de todos aqueles que, sem serem fiéis, têm sede de verdade e de justiça. A sua publicação acontecerá na solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, colunas da Igreja universal e evangelizadores exemplares do Evangelho no mundo antigo. Estes apóstolos viram aquilo que pregaram, e testemunharam a Verdade de Cristo até o martírio. Imitemo-los no seu impulso missionário e rezemos ao Senhor para que a Igreja siga sempre o ensinamento dos Apóstolos, dos quais recebeu o primeiro jubiloso anúncio da fé.

20 de março de 2005, Domingo de Ramos.

CARDEAL JOSEPH RATZINGER

Presidente da Comissão Especial

Notas __________________________________________

1. João Paulo II, Const. Apost. Fidei depositum, 11 de outubro de 1992.

2. João Paulo II, Carta Apostólica Laetamur magnoepre, 15 de agosto de 1997.