Como
o homem, sob a veste material, que se renova sem cessar, conserva sua própria
identidade espiritual, o “eu” indestrutível, a consciência na qual
se reconhece e se possui assim o universo, sob suas mutáveis aparências,
possui-se e, reflete-se em uma unidade central que é seu “eu”. O
“eu” do Universo, Deus, lei viva, unidade suprema para a qual
convergem harmonizando-se, todas as relações, foco imenso de luz e de
perfeição do qual emanam e se expandem sobre toda a humanidade, a Justiça,
a Sapiência e o Amor!
Tudo
envolve no universo e tende para um estado superior; tudo se transforma e
aperfeiçoa-se. Do seio dos abismos surge a vida que, confusa, indecisa a
princípio, assume formas inumeráveis sempre mais perfeitas, até que se
afirma no ser humano, no qual conquista consciência; razão e vontade.
O
espírito é imortal. Coroa e síntese das potências inferiores da
natureza, ele contém em germe todas as faculdades mais elevadas, que deve
desenvolver com seu trabalho e com seus esforços, encarnando-se em mundos
materiais, subindo de degrau em degrau, para a perfeição, através de
sucessivas existências.
O
espírito tem dois invólucros um temporário que é o corpo
terrestre, instrumento de luta e de prova que se desagrega com a morte; o
outro permanente que é o corpo fluídico do qual o espírito não se
separa (perispírito) que progride e se purifica com ele.
A
vida terrestre é uma escola na qual o espírito se educa e aperfeiçoa
com o trabalho, o estudo e o sofrimento.
A felicidade e a dor não são eternas; a recompensa ou o castigo
consistem na extensão ou na limitação de nossas faculdades, do nosso
campo perceptivo, e isto advém do bom ou do mau uso de nosso livre-arbítrio,
e das aspirações ou tendências que tenhamos desenvolvido em nós. Livre
e responsável o espírito traz com ele a lei de seus destinos; no
presente recolhe as conseqüências do passado e semeia as alegrias e as
dores do futuro. A vida atual é a herança de nossas vidas precedentes e
a preparação daquelas que se seguirão.
O
espírito recebe luz e poder intelectual e moral, em proporção
com o caminho percorrido e com o impulso dado às suas ações em direção
ao bem e ao verdadeiro.
Uma
estreita solidariedade liga os espíritos, iguais por sua origem e pelos
seus fins, diversos apenas pela sua condição transitória; uns livres no
espaço, outros com o fardo de um invólucro perecível, mas suscetíveis,
alternadamente de um e de outro estado, pois a morte não é senão um período
de repouso entre duas existências terrestres. Vindos de Deus, seu Pai
comum, todos os espíritos são irmãos e formam uma imensa família;
uma comunhão perpétua e consoladora, liga os monos e os vivos entre si.
Os
espíritos dispõem-se no espaço em razão da densidade de seu corpo fluídico,
relativa sempre ao seu grau de adiantamento e de pureza.
Sua condição é determinada por leis fixas que tem, na ordem
moral, função análoga a que, na ordem física, tem as leis de atração
e de gravidade. A justiça reina no domínio do espírito, como a lei do
equilíbrio no domínio da matéria; os espíritos culpados e maus são
envolvidos em densa atmosfera fluídica que os arrasta para os mundos
inferiores, onde deverão assumir outro corpo para despojar-se de suas
imperfeições. A alma virtuosa, revestida de um corpo sutil, etéreo
participa das sensações da vida espiritual e eleva-se para os mundos
felizes onde a matéria perde seu domínio, onde reinam a harmonia e a
felicidade. O espírito, na sua vida superior e perfeita, torna-se
colaborador de Deus, concorre para a formação dos mundos, dirige a evolução
deles, vela pelo progresso da humanidade, pelo cumprimento das leis
eternas.
O
bem é a lei suprema do universo a finalidade da evolução dos seres. O
mal não tem existência própria, é feito de um contraste; é o estado
de inferioridade pelo qual passam todos os seres, na sua ascensão para um
estado melhor.
Sendo
a educação da alma a finalidade da vida, é importante reprimir as
necessidades grosseiras os apetites materiais e criar para si necessidades
intelectuais e elevadas. Lutar, combater, sofrer, se necessário, para o
progresso dos homens e dos mundos. Encaminhar os semelhantes para a luz da
verdade e do belo. Amar a verdade e a justiça, praticar todos a caridade,
a benevolência; tal o segredo da felicidade futura, tal o dever!
Recorda-te
de que a vida é curta, esforça-te, pois, por conquistar, enquanto o
podes, aquilo que vieste aqui realizar: o verdadeiro aperfeiçoamento.
Possa teu espírito partir desta terra mais puro do que quando nela
entrou! Evita as insídias da
carne; pensa que a Terra é um campo de batalha onde a matéria e os
sentidos assediam continuamente, luta pelo espírito e pelo coração;
corrige teus defeitos, modifica teu caráter, reforça a tua vontade;
eleva-te o pensamento acima das vulgaridades da terra e contempla o espetáculo
luminoso do céu.
Recorda-te
de que tudo quanto é material é por isso mesmo efêmero: as gerações
passam como as ondas do mar, os impérios desmoronam-se. os próprios
mundos perecem, os sóis apagam-se; tudo termina, tudo desaparece. Mas três
coisas existem que vem de Deus e, como Deus, são eternas. Três coisas
que esplendem acima de todo o fulgor das glórias humanas: Sabedoria,
Virtude e Amor! Esforça-te por conquista-las; alcançando-as tu te elevarás
acima do que é passageiro e transitório, para apenas gozares o que é
eterno.