PREFÁCIO

 

PENSAMENTO 1

 

Quem é verdadeiramente rico ?

Rabbi Meir disse: Aquele que deriva prazer de sua riqueza.

Rabbi Tarfon disse: Aquele que tem cem vinhedos e cem campos, e cem empregados que trabalham neles.

Rabbi Akiva disse: Qualquer um que tem uma esposa cujos modos sejam agradáveis

Rabbi Yossi disse: Aquele que tem  um toalete perto de sua mesa. (1)

 

 

Na totalidade dos ensinamentos rabínicos pode-se encontrar a defesa da tese da moderação sábia. Ambos os extremos – a austeridade e o hedonismo – são censurados como nocivos.

Nossos sábios nunca associaram nenhuma virtude à pobreza. Ao contrário. Está escrito: “Onde não há pão, não há Torah”  (2). Esta é uma máxima que demonstra que a carência de sustento é um obstáculo muito grande para se atingir o conhecimento daquilo que é essencial no cumprimento da vontade Divina.

Em outro lugar, está dito: “Pior é a pobreza na casa de um homem que cinqüenta pragas.” (3) . Os Rabinos percebem o valor do conforto na vida humana e  dizem: “um lugar bonito, uma esposa bonita, móveis bonitos  são meios que proporcionam ao homem uma boa mente“. (4) . A definição rabínica de um homem rico é: “aquele que deriva prazer de sua riqueza” (5).

Conta-se a história que, devido a sua crítica à administração romana na Palestina, Rabi Shimon bar Yochai teve que esconder-se para salvar sua vida. Ele e seu filho se fecharam numa caverna durante doze anos. Ouvindo que o rei morrera e o decreto de sua morte fora rescindido, ele saiu de seu esconderijo. Viu um homem arando e semeando  a terra e exclamou: “abandonam a vida eterna  e ocupam-se com vida coisas transitórias, sem nenhum valor”. Onde quer que ele e seu filho voltassem os olhos, tudo para que eles olhavam logo se incendiavam. Haviam vivido uma profunda experiência mística naquele período. Agora não se conformavam com a labuta diária  dos seres humanos comuns em busca do sustento, dedicando, ao final, tão pouco ou quase nada aos valores espirituais. Ambos haviam suplantado as mínimas e básicas necessidades do ser humano através do mais profundo relacionamento com o divino.

Foi então que uma voz dos céus dirigiu-se a eles, dizendo: “vocês deixaram aquela caverna para destruir meu mundo? Voltem já para lá !!!” (6). Ficara explícito, agora, que a manutenção da ordem social tem a aprovação de Deus. Isso significa, portanto, que o homem tem todo o direito de gozar os frutos de seu trabalho como recompensa por seu esforço.

Porém, um grande cuidado há de ser tomado. Acumular riquezas para comprazer à luxúria, não está de acordo com a Sua vontade. “Quando Salomão erigiu o templo, ele disse ao Todo-Poderoso: ‘Soberano do Universo, se um homem rogar-te por abundância e Tu souberes que abusará dela, não lhe conceda. Porém, se Tu vês um homem usar suas riquezas para o bem, concede sua petição, tal como ele Te pede’ , pois, assim está dito: ‘ concede a cada homem conforme os seus próprios caminhos, porque Tu conheces o seu  coração’ “ (7)

Há uma abundância de significados na definição: “quem é rico? É aquele que se alegra com a sua porção, pois está dito: ‘quando você come o trabalho das tuas mãos, você é feliz e estará feliz consigo mesmo’ ” (8). Dizem os rabinos que a expressão “você é feliz” refere-se à vida neste mundo, e “estará feliz consigo mesmo” refere-se à vida no mundo vindouro. (9).  

Isso cristaliza o ponto de vista dos rabinos a respeito do mundo material.        

[1] TB Shabbat 25b.  Os quatro rabinos mencionados nesta passagem foram  tannaim do século II  E.C , isto é, mestres mencionados na Mishnah

[2] Pirkei Avot 3:21  
[3] TB Baba Batra 116a   
[4] TB Berakhot 57b   
[5] TB Shabbat 25b   
[6] TB Shabbat 33b   
[7] II Cron. 6:30; Exod. Rabbah 31:5   
[8] Salmos 127:2    
[9] Pirkei Avot 4:1