VESTIBULAR

Conheça os vários tipos de processo seletivo que levam você para dentro da universidade

Se, na floresta, os adolescentes índios se submetem a provas de bravura para mostrar à tribo que estão virando adultos, nas cidades, os jovens passam vários meses debruçados sobre livros e devem comprovar seus conhecimentos num exame para entrar na faculdade. Assim como as competições na ma­ta, encarar o vestibular marca a entrada na vida adulta. "É a primeira grande decisão que o jovem tem de tomar sozinho", esclarece Silvio Bock, coordenador do Nace, um curso de orientação vocacional em São Paulo. Seja você um ianomâmi ou não, o certo é que não dá para fugir desse momento nem dos ri­gores da prova, pois fazem parte do amadurecimento.

Acontece que esses ritos de passagem urbanos não se limitam mais aos exames do vestibular tradicional. Uma lei aprovada em 1996 conferiu mais autonomia às faculdades no processo seletivo. Assim, várias es­colhem os alunos levando em conta o desempenho no ensino médio. Veja como funciona cada um desses sistemas de seleção e se prepare pa­ra enfrentá-los com segurança.

VESTIBULAR TRADICIONAL

O que é: um exame que abrange os conteúdos dos três anos do ensino médio. É elaborado pelas faculdades e universidades ou por instituições encarregadas dessa tarefa. E o caso da Fundação Universitária para o Vestibular Fuvest (Fuvest), que prepara o exame vestibular da Universidade de São Paulo (USP), e da Fundação Cesgranrio, que faz as provas das Universidade Gama Filho (UGF) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP), entre outras.

Como funciona: as questões podem vir na forma de testes (prova objetiva) e/ou pedir respostas dissertativas. Geralmente, inclui uma redação. Muitas vezes, o exame é composto de mais de uma fase. Na primeira, eliminatória, verificam-se conheci­mentos gerais do candidato, em várias matérias. Na segunda fase, o participante responde a questões mais profundas, sobre assuntos fundamentais ao acompanhamento do curso universitário a que está concorrendo. Essa etapa é classificatória; isto é, os candidatos mais bem preparados, que passaram pela peneira da primeira fase, disputam as vagas entre si. "Os maiores vestibulares do país não cobram mais do estudante conteúdo das matérias, pura e simples­mente", diz José Coelho Sobrinho, coordenador da Fuvest. "Exigem que ele entenda o enunciado de um problema, associe as informações, analise, sintetize e responda organizadamente". Ou seja: a decoreba vale cada vez menos. Tanto é assim que até mesmo as fórmulas são fornecidas. O que se quer é medir a capacidade de análise e crítica do candidato.

Como é dada a nota: o desempenho na primeira etapa costuma ser somado ao da segunda na composição da nota final, numa proporção que varia de acordo com a faculdade. Na Fuvest, por exemplo, os pontos conquistados pelo aluno entre os 160 possíveis na primeira fase são somados aos conquistados por ele na segunda. Nessa última etapa, cada matéria tem um valor, dependendo do curso a que o aluno está concorrendo. Os pontos do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) podem ser somados aos da primeira fase, mas só se isso elevar o resultado final. Caso contrário, o Enem é descartado.

Algumas faculdades que adotam o sistema: USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).

Preste atenção: a segunda fase é a hora decisiva. Nela você concorre com candidatos mais bem prepara­dos e precisa superá-los para conseguir uma boa colocação e entrar na faculdade que escolheu.

ENEM

O que é: algumas faculdades e universidades aplicam a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para selecionar alunos. Essa nota pode substituir todo o processo se­letivo ou entrar como valor parcial, a ser somado com o resultado de outros processos de seleção. Calcula-se que mais de 200 instituições de ensino superior já adotem o Enem como meio de seleção.

Como funciona: o Enem, que surgiu em 1998, avalia os alunos do ensino médio por meio de uma prova. Composta de 63 questões na forma de teste e de uma redação, ele é oferecido anualmente aos alunos que estão concluindo ou já concluíram o ensino médio. A inscrição no Enem pode ser feita pela internet (no site www.enem.inep.gov.br/inscricao ). Você preenche um formulário, imprime um bolero bancário e paga no banco ou faz o processo todo em agências bancárias, diretamente. A taxa é de 32 reais, mas alunos carentes ou da rede pública ficam isentos, desde que apresentem um formulário fornecido pela escola e um atestado da direção (particular) relatando suas dificuldades para pagar a taxa ou se a instituição (pública) aderiu à inscrição pela internet. As provas acontecem em quase 250 municípios em todo o Brasil. Informações pelo telefone 0800-616161 ou pelo site do MEC: www.mec.gov.br .

Como é dada a nota: o resultado do Enem (que é enviado para a casa do estudante, como documento sigiloso) é usado pela faculdade no lugar do vestibular ou somado aos pontos de uma prova tradicional para compor a nota final. Em alguns vestibulares como o da USP, a conta é feita de maneira que a nota do Enem só seja considerada se ajudar o aluno a elevar sua média, caso contrário, é descartada. Na Universidade do grande ABC (UniABC), em São Paulo, que usa integralmente a classificação Enem como meio de selecionar os universitários, alunos com 41 pontos ou mais têm ingresso garantido.

Algumas faculdades que adotam o sistema: USP, Unesp, Unicamp, Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Faculdade Unificada de Foz do Iguaçu (Unifoz), PUC-PR, PUC-RJ, Universidade Grande Rio (Unigran­rio), Universidade de Alfenas (Unifenas), Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

Preste atenção: não deixe de fazer o Enem. Ele pode ajudá-lo a entrar na faculdade que você escolher, já que sua classificação num vestibular sobe bastante com a nota do exame. É possível repetir a prova para melhorar a pontuação.

AVALIAÇÃO SERIADA

O que é: esse método de avaliação surgiu em 1996, na Universidade de Brasília (UnB). Nele, os candidatos são avaliados no decorrer dos três anos do ensino médio.

Como funciona: o pretendente se inscreve na faculdade no primeiro ano do ensino médio - mesmo sem ter escolhido a carreira - e realiza uma prova anual, feita pela faculdade. “Os conteúdos são cumulativos e seguem o programa escolar básico", diz Antonio Carlos Cappabianco, diretor do processo seletivo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, Isso significa que a prova vai cobrando, ano a ano, o conteúdo que o aluno já estudou. No primeiro ano são verifica­das apenas as disciplinas que o candidato aprendeu naquela série; no segundo, avalia-se o conhecimento que ele obteve naquele ano e no anterior, e assim sucessivamente.

Como é dada a nota: os pontos de cada prova são somados, e, no final do ensino médio, o aluno obtém o resultado total. A UnB confere pesos diferentes a cada série (a prova da 1ª série do ensino médio tem peso 3, a da 2ª, peso 2, e a da 3ª, peso 3). Então, faz-se a soma dos pontos do aluno para ver que bacharelado ou licenciatura ele tem o direito a cursar. A vaga está garantida se ele tiver interesse em fazer o curso para o qual se classificou.

Algumas faculdades que adotam o sistema: Faap, Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Lavras (Ufla), Universidade Fede­ral de Uberlândia (UFU) e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Preste atenção: esse sistema permite que o aluno faça uma espécie de auto-avaliação em prestações. Assim, se ele for mal no exame de um ano, pode correr atrás do prejuízo no ano seguinte. "O estudante tem chance de se recuperar a tempo, ainda durante o ensino médio", explica Joaquim José Soares Neto, chefe do Setor de Acesso ao Nível Superior, da UnB. Outra vantagem é que ele é so­licitado aos poucos, à medida que aprende as disciplinas no colégio.

ANÁLISE DO HISTÓRICO E DO CURRÍCULO

O que é: as notas obtidas pelos alunos no ensino médio são consideradas para saber se o estudante está apto a freqüentar a faculdade ou não, sem importar a qualidade da escolha' que ele cursou. Avalia-se, também, o currículo do candidato.

Como funciona: de mudo geral, o candidato a um curso de graduação submete o histórico escolar a um grupo examinador da faculdade em que pretende ingressar. Essa banca verifica o desempenho do aluno e emite o veredicto - se ele entra ou não. No entanto, cada es­cola define quando e como esse processo de ensino deve ser adotado. Na Universidade do Contestado (UnC), em Santa Catarina, por exemplo, o histórico escolar só é levado em conta se o candidato a um bacharelado já possuir diploma superior - licenciatura, tecnólogo ou outro bacharelado cursado anteriormente. É o caso de quem se formou bacharel em Física e quer entrar em Pedagogia pata fazer complementação pedagógica e poder dar aula. Na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), a análise do histórico é feita depois da realização do vestibular tradicional, para preencher as vagas remanescentes. E na Faculdade Santa Marcelina (Fasm), também em São Paulo, as notas do ensino médio entram num sistema misto de seleção, que inclui teste de conhecimentos gerais, notas do Enem e entrevista, além das provas de aptidão para alguns cursos.

Como é dada a nota: a banca examinadora de cada escola atribui uma pontuação própria pata as notas que o candidato obteve no ensino médio e para experiências de ensino que ele conta em seu currículo. Somam pontos, por exemplo, ter estudado uma língua estrangeira ou passado no vestibular de outra faculdade.

Preste atenção: esse sistema privilegia alunos com boas notas na escola, mas não faz distinção entre a qualidade de ensino dos diversos cursos secundários, o que permite a entrada na faculdade de candidatos com níveis muito diferentes.

Algumas faculdades que adotam o sistema: CBM (RJ), Fasm (SP), Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Umesp (SP), UnC (SC).

PROVA DE APTIDÃO

Dependendo da carreira escolhida, saber as matérias do ensino médio não é suficiente para assegurar que você acompanhará bem o curso universitário. Nesses casos, as faculdades verificam as habilidades necessárias a cada atividade numa prova especial. São as provas de aptidão, ou de habilidades específicas. Nesses exames são checadas as noções práticas e teóricas do aluno em determinado campo do conhecimento. Cursos como Música, Desenho Industrial, Artes Plásticas, Arquitetura, Artes Cênicas, Audiovisual, Dança, Cinema, Esporte e Edu­cação Física costumam ter esse tipo de seleção, que muitas vezes têm peso importante no total da avaliação do vestibular. Para os exames de Arquitetura da USP os alunos estudam linguagem arquitetônica. Aprendem a desenhar de memória, de observação, usando os princípios da geometria e exercitam o desenho de criação. No exame para Artes Cênicas, os candidatos fazem uma prova escrita a respeito de uma peça teatral, sorteada entra as que foram indicadas no manual do vestibular. Depois, submetem-se a uma avaliação oral sobre outra peça, também sorteada na hora, e seguem para a avaliação prática, na qual é preciso improvisar diante de uma banca examinadora seguindo textos previamente indicados.